Em encontro com advogados nesta sexta-feira (15), ele declarou que avalia inserir novo conceito no Catecismo. Proposta que elabora o pecado contra a natureza apareceu no evento com bispos em outubro.
Quase duas semanas após o encerramento do Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia, o Papa Francisco revelou que pretende incluir oficialmente o conceito de “pecado ecológico” na doutrina da Igreja.
Em uma audiência com advogados penais nesta sexta-feira (15), no Vaticano, ele disse que “se está pensando em introduzir no Catecismo da Igreja Católica o pecado contra a ecologia”.
O Catecismo é o livro que resume todo o pensamento e a doutrina da Igreja, especialmente em questões de fé e moral. A inserção desse tipo de pecado no Catecismo faz com que a ideia deixe de ser uma visão pessoal de Francisco e passe a ser oficialmente ensinada pela Igreja.
O Papa Francisco já alterou o Catecismo uma vez para dizer que a pena de morte é inadmissível em todas as circunstâncias.
Embora o Papa Francisco já tivesse mencionado a “conversão ecológica” em sua encíclica “Laudato Si’”, de 2015, o conceito de “pecado ecológico” foi elaborado durante o Sínodo da Amazônia.
O encontro de bispos, missionários e especialistas da região amazônica propôs que o desrespeito à natureza seja visto como uma nova forma de pecado, por representar um desrespeito ao “Criador”, ou seja, Deus, e à sua obra, que são o planeta Terra e todos os seres.
As resoluções do Sínodo não são definitivas, mas apenas propostas entregues ao Papa após um debate que durou três semanas, no Vaticano. Cabe ao Papa decidir o que fazer a partir daí.
Durante o Sínodo, o Papa fez duras críticas às queimadas na Amazônia.
Pecado ecológico e ‘ecocídio’
O conceito de “pecado ecológico” foi definido pelo documento final do Sínodo, aprovado em 26 de outubro, como uma “ação ou omissão contra Deus, contra o próximo, a comunidade e o ambiente” e o chamado à conversão e o cuidado da “casa comum”, isto é, o planeta Terra.
O texto final foi votado por 181 participantes que têm direito a voto, os chamados “padres sinodais”. Durante a votação do documento, todos os parágrafos receberam maioria de dois terços de aprovação.
“Propomos definir o pecado ecológico como uma ação ou omissão contra Deus, contra o próximo, a comunidade e o meio ambiente. É um pecado contra as gerações futuras e se manifesta em atos e hábitos de contaminação e destruição da harmonia do ambiente, transgressões contra os princípios da interdependência e a ruptura das redes de solidariedade entre criaturas e contra a virtude da justiça.” – Documento Final do Sínodo da Amazônia
No encontro com a Associação Internacional de Direito Penal, nesta sexta, Francisco declarou que a destruição do meio ambiente não é um comportamento “justo” e, portanto, não pode permanecer sem nenhuma punição.
Segundo ele, pode-se falar em “ecocídio” quando há “perda, dano ou destruição de ecossistemas de um território determinado, de modo que seu aproveitamento por parte dos habitantes seja ou possa ser severamente prejudicado”.
De acordo com um resumo divulgado pelo Vaticano, o Papa também falou sobre o que chama de “idolatria do mercado”. Francisco declarou que “alguns setores econômicos têm mais poder que os próprios estados”.