Um dos líderes do movimento que lutou na década de 1990 pela adoção da política de cotas no ensino superior brasileiro, o frei franciscano David Raimundo dos Santos comemora o resultado da pesquisa que mostra os negros como maioria nas universidades do país.
A constatação foi divulgada ontem e está no informativo Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil, do IBGE. Apesar disso, David reconhece que a igualdade é uma meta distante. Manifestações racistas ainda são frequentes no cotidiano da população negra.
Por isso, o frei continua na luta. Agora, está à frente da campanha “Não Compre de Racistas”, que será lançada hoje, às 11 horas, contra empresas que tenham sido denunciadas por ações discriminatórias. O primeiro ato será na Avenida Paulista, em São Paulo, para protestar contra o atendimento da loja de uma rede de pastelarias onde teria havido racismo.
“Queremos estimular que toda as manifestações racistas sejam denunciados imediatamente”, afirma David. “Temos uma relação de empresas que serão indicadas por terem cometido atos discriminatórios”. Para ele, a campanha retrata a maturidade da comunidade negra, que exige respeito em todos os espaços.
David não acredita, porém, que o país esteja mais racista:
“Para nós, o aparente aumento de manifestações de racismo acontece porque o negro hoje tem mais coragem de gritar por seus direitos. Antes se encolhia. Então, não digo que a sociedade está mais racista, mas que a comunidade negra está mais corajosa para denunciar os absurdos que sofre”.
Com a maior qualificação dos negros, como mostra a pesquisa do IBGE, David prevê que a segregação nas empresas privadas ficará mais à vista.
“A partir do momento que o negro começa a disputar os empregos de igual para igual, estamos prevendo que haverá problemas, já que as empresas não estão preparadas para recebê-lo com todos os seus direitos. Ou elas se atualizam ou sofrerão algum tipo de pressão forte”, prevê o frei franciscano.
Na década de 90, David esteve envolvido na organização de uma rede de pré-vestibulares comunitários. Depois, na Baixada Fluminense, começou a luta para que as faculdades públicas passassem a dar isenção na taxa de vestibular para pobres e negros.
Hoje, todas as universidades públicas têm esse benefício. Por causa do ativismo de David e seu grupo, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro foi a primeira a adotar cotas em sua seleção, em 2004. “Foi o trabalho firme da comunidade negra que causou esse resultado”, diz, com orgulho.
Fonte: UOL
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